Grupo da USP identifica medicamentos com potencial
atuação contra o CoronaVirus
Fonte: VEJA - Reportagens
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Por meio de uma técnica conhecida como reposicionamento de fármacos,
pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo
(ICB-USP) encontraram sete possíveis medicamentos para
inibir a replicação do novo coronavírus. Os
produtos já são aprovados pela Food and Drug Administration (FDA, agência
reguladora dos Estados Unidos), o que facilitaria o avanço para testes clínicos
caso sua eficácia seja comprovada in vitro, nos testes feitos com
linhagens celulares.
Os resultados da pesquisa – apoiada pela FAPESP por meio de três
projetos – foram publicados no Journal of Biomolecular
Structure and Dynamics.
A investigação teve como foco a enzima 3CLpro do SARS-CoV-2, considerada
essencial para a replicação do vírus. Por meio de técnicas de aprendizado de
máquina, os cientistas testaram mais de 11 mil moléculas e selecionaram aquelas
que mostraram maior afinidade com a molécula-alvo, bem como maior estabilidade
dentro do sítio ativo – região da proteína onde ocorre a reação química.
Atuação da enzima
A 3CLpro do coronavírus é uma protease responsável por quebrar uma
cadeia de proteínas virais (poliproteína) em suas subunidades funcionais,
permitindo assim a replicação do RNA e a montagem de novas partículas virais
que infectarão outras células. A hipótese é que, ao inibir a 3CLpro, ela não
consiga exercer a sua função e o vírus deixe de se replicar e proliferar,
diminuindo a carga viral e a gravidade da doença.
Trata-se de um alvo diferente de outros estudos, muitos deles focados na
proteína spike, que fica na superfície do vírus e é responsável
pela interação com a célula hospedeira. “Escolhemos a 3CLpro porque já havia
uma quantidade considerável de informação sobre ela, em razão de mais de 15
anos de pesquisa com a 3CLpro do SARS-CoV [coronavírus que causou a epidemia de
síndrome respiratória aguda grave entre 2002 e 2003]”, diz Guzzo.
Metodologia
Para simular a interação dos medicamentos com a protease, os
pesquisadores elaboraram três modelos matemáticos, utilizando redes neurais
artificiais e dois modelos de regressão. Esses modelos quantitativos,
conhecidos como QSAR, tiveram como base informações da literatura sobre
moléculas que já eram conhecidas por terem propriedades inibitórias contra a
enzima 3CLpro.
Com os modelos de QSAR, foi feita uma predição de afinidade de 11 mil
moléculas, utilizando a base de dados Drugbank, repositório que combina dados químicos e
farmacológicos detalhados a respeito de 4.300 fármacos, aproximadamente. Com
base nos resultados computacionais, 2.500 moléculas foram descartadas por terem
baixa afinidade com a enzima. Dos 8.500 compostos que seguiram, foram
selecionadas 14 moléculas com propriedades farmacológicas diferentes (fármacos
para tratamento de enxaqueca, doenças respiratórias, ação antimicrobiana e
produtos naturais) para simulação computacional entre esses fármacos e a
enzima.
“Para inibir a enzima, não basta só alta afinidade predita, é preciso
que a molécula consiga se manter ligada ao alvo. Caso contrário, a função da
enzima é reativada. Então simulamos como essas 14 moléculas se comportariam
dentro do sítio ativo da 3CLpro. Realizamos uma docagem [acoplamento entre
moléculas] seguida por dinâmica molecular para verificar se o composto fica
estável dentro da enzima e aí sobraram sete candidatos”, explicam os
pesquisadores.
Os cientistas agora pretendem confirmar essas predições em experimentos
bioquímicos, por meio de clonagens da 3CLpro. Caso a descoberta seja validada,
a expectativa é estabelecer parcerias com outros laboratórios do ICB para
testar os fármacos in vitro.
O artigo Quantitative structure-activity
relationships, molecular docking and molecular dynamics simulations reveal drug
repurposing candidates as potent SARS-CoV-2 main protease inhibitors pode
ser lido em: www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/07391102.2021.1958700?scroll=top&needAccess=true.
Com informações da Assessoria de Comunicação do ICB-USP.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de
acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
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